segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Há um século no Correio do Povo




Pesquisa e edição: DIRCEU CHIRIVINO | Chirivino@correiodopovo.com br CORREIO DO POVO

O porto das Torres
CP MEMORIA


Nova tentativa de construcção
Negociações a respeito


No Itajubá, partiu, hontem, para o Rio de janeiro, onde demorar-se-á um mez, o sr. Alfredo Dillon, commerciante da praça da capital ingleza. Ha dias que o dr. Dillon se acha­va em Porto Alegre, tendo vindo de Londres em companhia do seu se­cretario, sr. A. M. dos Santos, tam­bém do commercio daquella praça O sr. Dillon, que é rio-grandense, desde que transferiu residência pa­ra a Inglaterra, ha 20 annos, tem feito, nesse paiz, efficaz propagan­da do Rio Grande, quer nos centros commerciaes, quer no mundo finan­ceiro.

Possue elle, em seu estabelecimen­to commercial, amostras de todos os productos agrícolas e industriais do Rio Grande.

O tema principal de sua viagem ao Brazil foi tratar da construcção do porto das Torres, empreza que to­mou a peito desde 1891, e por cuja realisação muito se tem esforçado. Naquella época, o sr. Dillon chegou a obter do então presidente da Re­publica, marechal Deodoro, uma concessão para a construcção do porto das Torres. Tendo, porém, sido demoradas as obras, o praso da concessão exgotou e o privilegio caducou. Nesses trabalhos, foi elle auxiliado pelo finado dr. Trajano Viriato de Medeiros.

Vendo o seu trabalho perdido, o dr. Dillon recommeçou campanha, ten­do tido ensejo, agora, em sua via­gem para o Rio Grande, dc se esten­der a respeito, no Rio, com o sena­dor Pinheiro Machado Este, em conferencia com o sr Dillon, declarou-lhe que, si fosse preciso, envidaria todos os seus esforços para a abertura do porto das Torres.

O senador Pinheiro prometteu es­crever, nesse sentido, aos drs Car­los Barbosa, presidente do Estado, e Borges de Medeiros, chefe do par­tido republicano.

Aqui chegando, o sr. Dillon procu­rou, logo, o presidente do Estado, com quem teve demoradas confe­rencias.

Mostrou elle as grandes vantagens dessa obra, para o Rio Grande do 5ul, principalmente para a região serrana, que por ali poderá, perfeitamente, exportar gado. Disse elle que, actualmente, apezar dos agricultures do município de Torres já estarem sobrecarregados de impostos, a renda municipal, ali, é exigua, provindo, dahi, a decadên­cia da villa.

Fez ainda considerações sobre o importante empreendimento, procu­rando demonstrar que a construcção do porto de Torres offerece mais vantagens que as obras da barra do Rio Grande. Com relação a estas, citou, ao presi­dente do Estado, as palavras do senador Pinheiro. Mostrou, tam­bém, mappas e photographias da villa de Torres e dos tres outeiros de pedra e terra, situados na praia da villa, quasi a prumo, pelo lado do oceano, e chamados Torre do Norte, Torre do Meio e Torre do Sul. O dr Carlos Barbosa manifestou sympathia pela iniciativa do sr Dillon e prometteu estudar a ques­tão, dizendo ser provável que o governo do Estado faça esse importan­te melhoramento, tão vantajoso para os rio-grandenses. Accrescentou que, caso fique decidi da a execução das obras, o governo ou fará um empréstimo, para realisá-las, ou fornecerá o material ne­cessário a quem se encarregar das mesmas.

O sr. Dillon, em resposta, disse que si fôr fornecido o material, elle se encarreeará de arranjar, na Europa, o capital preciso.

Conversas com Borges de Medeiros

O sr. Alfredo Dillon também confe­renciou, duas vezes, com o dr. Bor­ges de Medeiros, que louvou o seu patriotismo e os seus esforços em prol do Rio Grande
Caso se faça, no novo porto será construído uma linha férrea que ligará Torres a Porto Alegre.

Notícias publicadas no Correio do Povo de 30/7/1911

Porto das Torres - O dr. Borges de Medeiros, chefe do partido republi­cano, recebeu do dr. Homero Baptis­ta, deputado por este Estado, o se­guinte Telegramma: "Rio, 10 - Bancada apresentou, ho­je, conforme vossa indicação, pro­jecto autonsando presidente da Re­publica realisar, mediante concurrencia publica, obras necessárias construcção porto das Torres, accôrdo decreto 14 de fevereiro 1907, podendo ettectuar crédito Abraços Homero Baptista " Noticia publicada no Correio do Povo de 12/8/1911


A grafia de época está preservada nos textos acima

N. R. - Segundo a noticia acima, des­de 1891 se cogitava a construção de um terminal portuário em Tor­res. Em nossas pesquisas diárias até a presente data, não flagra­mos outras informações consistentes sobre o assunto.




sábado, 3 de setembro de 2011

O inimigo que não veio


Soldados da Brigada Militar entrincheirados na divisa
 do Rio Grande do Sul com Santa Catarina em 1961 
Crédito: ACERVO DO MUSEU DA BRIGADA MILITAR / DIVULGAÇÃO / CP
Parecia cena de filme. Um grupo de jovens soldados, na faixa dos 20 anos, parte de Porto Alegre em direção a Torres, no Litoral Norte, para proteger o Rio Grande do Sul de uma possível invasão da Marinha. No percurso, entoam "Canção do Expedicionário" e recebem o apoio da população. "Da avenida Assis Brasil até Gravataí havia muita gente na rua abanando e chorando, como se fosse um desfile militar", recorda o coronel reformado da Brigada Militar Jerônimo Santos Braga.

Foram duas semanas de tensão, em setembro de 1961, à espera de um inimigo que não veio. Dizia-se que a Marinha já estava preparada para promover um desembarque na costa gaúcha, a fim de combater a resistência comandada por Leonel Brizola em defesa da Legalidade. Por isso, era necessário proteger Torres, porta de entrada para o litoral do Estado. Para que o policiamento das cidades não fosse prejudicado, boa parte dos soldados enviados a Torres era formada por jovens alunos do terceiro ano do Centro de Instrução Militar - caso de Braga, que na época tinha 22 anos. Ele e os colegas não tinham a noção exata da gravidade da situação, mas prontamente responderam ao chamado. "O que mais nos movia era aquela coisa do espírito de tropa, de ser gaúcho e estar em um evento importante", explica Braga, hoje com 72 anos. Inspirado no avô Jerônimo Teixeira Braga, morto em combate como oficial comissionado, em 1932, o jovem havia ingressado na Brigada Militar aos 17 anos.

Mesmo que o combate tenha sido evitado, os dias em Torres foram marcados por contratempos. A começar pela viagem: o comboio com cerca de 80 veículos levou mais de 12 horas entre Porto Alegre e o destino final, percurso que em condições normais pode ser feito em três horas. Mas, em uma situação de guerra, todo cuidado é pouco. "Havia a observação da força aérea de que à noite os veículos tinham de trafegar a uma certa distância e sem luz", justifica o então aluno-soldado.

Ao chegar em Torres, por volta das 6h, a primeira surpresa: um avião sobrevoou o local onde as tropas estavam situadas. O comandante da companhia, capitão Odilon Chaves, tratou de conter os mais exaltados, pedindo que ninguém atirasse. Mais tarde, a frustração: o café da manhã não fora providenciado e os soldados ficaram sem comer. O mesmo ocorreu com o almoço e a janta. Para piorar ainda mais, chovia muito e, à noite, não foi possível terminar a montagem da posição. "Tivemos de dormir enrolados em lonas, fora dos abrigos, que estavam cheios d''água", conta Braga. A recompensa veio no dia seguinte, quando cada soldado recebeu café preto com graspa e duas bananas.

A linha de defesa foi montada em meio aos morros de Torres, próximo de onde hoje está localizada a Estrada do Mar. A rotina consistia, principalmente, em cavar buracos e preparar os abrigos antiaéreos para se proteger de uma invasão. "É uma movimentação estratégica para informar ao adversário que estamos preparados. Nos deslocamos para isso e para tentar dissuadi-los (a invadir o RS)", diz Braga. As unidades mais próximas ao mar ficavam atentas às luzes que pudessem surgir na água, sinal de que o inimigo se aproximava. Durante o dia, os soldados evitavam se deslocar para não serem percebidos pela observação aérea. O temido desembarque dos navios não ocorreu porque, segundo a imprensa da época, o "mar estava grosso". "Mar grosso é o mar muito picado, com muita onda, revolto e que impede a estabilidade das pequenas embarcações", explica o coronel reformado. No livro "Nós e a Legalidade", o capitão Odilon Chaves afirma não ter notado grandes alterações no mar. A tropa, então, passou a ser chamada de "mar grosso", pois acreditava-se que a presença da Brigada Militar, e não as águas revoltas, havia impedido a invasão.

Em um certo dia, Braga e um colega foram designados a instalarem-se em local longe do acampamento, onde acenderam uma fogueira para despistar o inimigo sobre a localização da tropa. Logo apareceram alguns agricultores, de quem os soldados compraram alimentos. Famílias e muitas crianças moravam nas redondezas. Foi então que o jovem soldado percebeu que o combate não ocorreria. "Certamente eles sabem que há civis e crianças aqui", disse Braga aos colegas na época. Três dias depois, a tropa recebeu ordem para voltar a Porto Alegre.

Com ou sem mar grosso, Braga considera positivo o desfecho daquele episódio - já que as consequências de um enfrentamento poderiam ser trágicas. "Haveria muitas mortes principalmente para a população civil. Imagine Torres sendo bombardeada", afirma. O coronel entrou para a reserva da BM em 1990, foi presidente da Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas (Corag) e hoje dirige a editora da Pontifícia Universidade Católica do RS (Edipucrs). Apaixonado por comunicação, guarda em seu gabinete o rádio pelo qual a mãe ouvia, aflita, as notícias sobre o combate que não aconteceu. Ciente de que cumpriu o seu dever, hoje ele brinca ao contar a aventura para o neto. "A guerra não saiu de preguiça, mas que eu fui, eu fui."
ANO 116 Nº 335 - PORTO ALEGRE, QUARTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE 2011   ESPECIAL > correio@correiodopovo.com.br


sábado, 27 de agosto de 2011

O porto de Torres

um século no Correio Povo
Pesquisa e edição: DIRCEU CHIRIVINO I chirivino@correiodopovo.com.br
No dia 21 de agosto de 1911 não houve edição do Correio do Povo. Na época o jornaI não circulava às segundas-feiras.
 O Porto de Torres

Quanto ao porto de Torres, é uma velha aspiração de todo o Estado, principalmente da zona do norte, que precíza de um porto no littoral, para a sua expansão e progresso.

Nenhuma ocasião é mais propicia que esta para se conseguir do governo da União um favor
. Na presidencia da Republica está um rio-grandense, e como leader da politica nacional outro, assim como um outro tambem como leader da maioria da Camara dos Deputados.

O Rio Grande, pois, domina a politica geral do paiz, e seria um desastre si não conseguissemos esse melhoramento, que é de interesse vital para o desenvolvimento do Estado.

Pudessemos nós, e esta
fita exhibiria aos olhos do Congresso Nacional todas as vantagens que nos adviriam si nos dessem o porto de Torres, e, por certo, nunca uma fita se desenrolaria com maior successo.

Max Linder

Crônica publicada no
Correio do Povo de 13/8/1911
A Grafia de época está preservada nos textos acima 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

MANIFESTO: POLO DE CINEMA EM TORRES




O mundo inteiro acompanha com preocupação o desenrolar da crise econômica mundial que arrisca extravasar para o campo social e político. Grandes e pequenas nações estão em busca de forças motrizes alternativas, capazes de impulsionar um novo ciclo de desenvolvimento compatível com as exigências de uma Nova Era marcada pelo peso dos serviços na economia e com a crescente importância da inteligência neste processo. A cultura já não é um adorno das classes privilegiadas. É um vetor decisivo da economia, especialmente no campo do turismo, quando se converte em empregos e renda. A combinação, então, de belezas naturais com atrativos culturais potencia a vocação turística de muitas cidades adequando-as a esses novos tempo. Parati, no Rio de Janeiro, tornou-se, com o Festival Internacional de Literatura, numa referência mundial. Gramado, aqui no RS, não foge à regra e fez de dois eventos culturais – o Natal Luz e o Festival de Cinema – o esteio de seu sucesso.

Torres é a mais bela praia do Rio Grande do Sul. Mas não pode viver eternamente à espera dos bons verões. Deve transcender sua majestade paisagística com novas atividades que a projetem como um grande pólo do turismo nacional e até internacional. O cinema, junto com outros eventos culturais, ligados à literatura, à gastronomia e à moda, podem lhe dar essa projeção. Trata-se, o cinema, de uma das mais prósperas indústrias do mundo e, em razão da crescente demanda de produtos áudio visuais , tende a se diversificar e ganhar ainda mais relevo. Com a vantagem das novas condições tecnológicas, diversas cidades no Brasil , a exemplo de Goiás Velho em Goiás, Araranguá, em SC, e alguns municípios do interior paulista, estão se transformando em verdadeiros pólos de atração de investimentos, talentos artísticos e de cursos de formação de profissionais do áudio visual – cinegrafistas, editores de vídeo, cenógrafos, figurinistas, atores etc. Torres já tem uma certa tradição em cinema. Três filmes foram rodados aqui, o primeiro deles, ainda nos anos 50 numa provável iniciativa de Alberto Ruschel.

Temos que aproveitar as condições naturais de Torres para dar um salto para o futuro. Vamos montar , aqui, o POLO DE CINEMA DE TORRES. Basta uma iniciativa da Prefeitura Municipal e algumas gestões com a ULBRA e SENAC, no sentido da criação de novos cursos ligados ao treinamento de pessoal para a indústria áudio visual para que isto se converta em realidade num curto espaço de tempo. Dois pontos de partida são fundamentais: (1) uma boa sala de cinema, que já temos, no Dunas Flat e que pode ser adquirida pela Prefeitura para sediar um Festival Anual de Cinema e (2) um galpão para uso das produtoras e diretores de filmes, que bem pode ser o ginásio da Lagoa, hoje abandonado e em vias de demolição. Com estes passos e franco apoio da Sociedade torrense poderemos transformar nossa cidade na referência rio-grandense do áudio-visual.


Pelo POLO DE CINEMA de Torres . Todos à LUTA.

Em Torres, 04 de julho 2011

PAULO CEZAR TIMM – Editor de Torres Revista Digital

Subscrevem:

Edgar Henrique Klever
L.Gonzaga Inácio
Bento Barcelos da Silva
Padre Leonir – Radio Maristela
Juarez Espindola
Nilson Rodrigues da Silva
Edison Estevão

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Mistério: os ossos achados em Torres

A rotina de Torres foi quebrada com o achado de duas ossadas humanas durante uma escavação. As hipóteses são muitas, mas apenas uma é aceitável.
21 de Maio de 1973 – Folha da Manhã

Sexta-feira de manhã, quando as pás dos operários, Pedro Manoel da Rosa e Edu dos Santos Cardoso, tocaram nas ossadas de duas pessoas num terreno do centro da cidade balneária de Torres, a rotina do lugar estava sendo quebrada. E logo em seguida, depois da formal comunicação ao delegado de policia, tomou-se uma decisão para tentar elucidar o mistério: convocou-se uma reunião das pessoas mais idosas, que foi realizada no sábado, com alguns resultados satisfatórios.
Empregados da Construtora Ernesto Woebeke, os operários cavavam os futuros alicerces do Centro Comercial de Torres, num terreno próximo à Sociedade de Amigos da Praia de Torres (SAPT), na Rua José Picoral, quando suas pás tocaram nos ossos de um crânio. Nas escavações seguintes, já comandadas pelo delegado Rubens, descobriu-se outro crânio menor, partes das ossadas de duas pessoas e os retos de um caixão adornado com rendas e linho.
Muitas hipóteses
Algumas das hipóteses levantadas para explicar o achado poderiam ser consideradas absurdas. Uma delas dizia que os mortos seriam prisioneiros das forças legalistas da revolução de 1893, quando mais de mil homens estiveram acampados em Torres. Diz-se que, na época, vários prisioneiros e desertores foram degolados e enterrados na região. Outra hipótese: os ossos seriam de escravos ou, quem sabe de jesuítas.
No sábado de manhã, o delegado Rubens, que já tinha também as duas hipóteses, um crime passional, em que o marido mata o casal de amantes e enterra nos fundos de casa ou duas vítimas de uma peste como a varíola, resolveu chamar pelo rádio, “todas as pessoas que estejam a par da história do município”.
À tarde, os depoimentos dos historiadores ou simplesmente pessoas de idade avançada começavam pela reconstituição do lugar. O terreno vizinho à sede da SAPT foi comprado há três anos, pelos proprietários do Farol Hotel aos herdeiros do desembargador Vieira Pires, que residiu lá por mais de 25 anos, informou Olinda Cidade Resende, 53 anos, filha de um pesquisador da história da cidade, já falecido. O local onde foram achados os ossos era o pátio da casa de estuque.
Manoel Alexandre Gonçalves, o Nequinho Alexandre, 73 anos, reside próximo ao local há 35 anos: “Quando eu era guri novo, havia ali uma cruz, que não sei por que chamavam de Santa Cruz. A procissão de São Domingos, saída da igreja e fazia uma parada ali na cruz onde todos rezavam. Eu ouvia dizer que um casal pedirá para ser enterrado junto no morro”.
Segundo Nequinho Alexandre, quando a casa do desembargador foi construída a cruz já não estava mais. E conta que, por volta de 1930, “ali foi o armazém de Eliomar Martins, que fornecia comida para as forças getulistas, que pagavam com vales e talvez por isso o Eliomar morreu pobre”.
A existência anterior dessa cruz comprovada pelos depoimentos de muitos moradores antigos, começou a desfazer uma parte do mistério. O advogado Moises Camilo de Farias, 73 anos, ex-prefeito de Torres, subitamente viu-se envolvido em lembranças do passado: “Era uma cruz de madeira, com um metro e meio mais ou menos. Estava encravado num pedestal de escadas, feito de estuque (composição de barro em armação de madeira) coberto com cal. Nós crianças, brincávamos em redor dela e os adultos promoviam festas religiosas na Santa Cruz”.
As palavras do ex-prefeito, somou-se o depoimento de outra ex-autoridade, o exator aposentado Idilio Ferreira Porto, 82 anos, que acrescentou que a cruz foi transferida “para o lago norte da Igreja de São Domingos das Torres talvez há mais de 35 ou 40 anos”. Mas também criou uma dúvida: “Nunca ouvi falar que houvesse alguém sepultado sob a cruz. E ali também nunca foi cemitério, disso tenho absoluta certeza”.
Versão aceita
No fim da tarde de sábado estava sendo aceita uma versão para justificar a procedência do achado: seriam os cadáveres dos doadores de uma sesmaria de terra para a igreja. Mário Krás Borges, pesquisador da história do município, diz que o historiador Dante de Laitano encontrou documentos da doação, que teria sido feita pelo Império as famílias Rodrigues e Martins. E seguindo a tradição da época, quem ganhava sesmarias costumava doar uma parte a algum santo. E a igreja de São Domingos das Torres teria se originado assim.
Na colônia de pescadores da margem esquerda do rio Mampituba, do lado catarinense, moram os bisnetos de Manoel Rodrigues. Eles supõem que os ossos encontrados sejam de seus bisavós, Manoel Rodrigues, o Neco, e Cândida Maria Purcina. Eles receberam, em data que ninguém sabe especificar as terras onde hoje é o centro de Torres, Neco doou uma légua em quadra (seis quilômetros quadrados) e foi morar em outras terras, de duas léguas e meia em quadra, do lado catarinense.
Manoel Rodrigues, bisneto de Manoel Neco Rodrigues, não afirma que os ossos encontrados nas obras do Centro Comercial de Torres sejam de seus bisavós. Mas garante que, “se for um homem e uma mulher, podem ter certeza que são eles. Quando estes doaram o terreno para o santo, pediram para serem enterrados ali. Não lembramos bem o local, porque tudo era campo aberto, mas  ficava naquele morro onde esta a cidade”.
E Maria Batista da Silva, 82 anos, “antiga amiga dos Rodrigues”, garante que os ossos são do “velho Neco e sua mulher. Eu conheci a cruz que ficava no pátio da casa. Quando eu era menina, minha mãe dizia que ali estavam enterrados o Neco e a dona Cândida.
As mesmas dúvidas
Esta semana, quando as ossadas forem enviadas ao IML para entre outras coisas, precisar a data aproximada da morte, a situação pode ficar ainda mais confusa que agora. Segundo a memória dos velhos moradores de Torres e dos descendentes de Neco Rodrigues, os ossos seriam da metade do século passado e nada indica que pudessem manter-se praticamente intactos, inclusive com madeiras dos caixões ainda com pedaços de rendas.
O achado, que provocou o encontro animado das pessoas mais antigas de Torres durante dois dias, também serviu para que todos, lembrassem o velho Neco Rodrigues, um homem abastado que tinha 80 escravos e enormes extensões de terras no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Segundo seus descendentes, a igreja São Domingos das Torres foi construída pelos presos da Fortaleza de Ipiranga em 1824. Mas teria sido Neco Rodrigues que mandou construir o muro de pedra da Torre do Centro (há uma torre do sul e outa do norte da cidade), que seria um potreiro para reunir cavalos.
21 de Maio de 1973 – Segunda-Feira
Dos arquivos do Correio do Povo
Reportagem pesquisada pelo historiador João Barcelos da Silva

sexta-feira, 10 de junho de 2011

As Torres


A uma légua, (6,6 Km), mais ou menos, da foz do rio Mampituba, a praia que desde o morro de Santa Marta tem corrido em dunas arenosas, acha-se interrompida por um fenômeno geológico, que desperta a imaginação fatigada pelo espetáculo contínuo de uma monótona aridez: no meio desse deserto nublado de areia e d’água, aparece repentinamente um monumento natural dos mais curiosos: na borda do oceano levantam-se verticalmente três massas cilíndricas, as quais, em razão de sua forma, foram chamadas: as Torres; essas massas, aparentemente formadas de gneiss, batidas, e arruinadas incessantemente pelas ondas, em que se assentam da parte de Este, oferecem, à sua circular sobre o Oceano, rochas salientes em agulhas verticais, aderentes por sua base ao corpo mesmo de massa inteira, e que parecem os restos de ma cortiça exterior, já de muito tempo roída pelo mar.

            Esses paralelepípedos lapídeos, sobranceiros ao Oceano, fazem corpo por sua face oposta com as terras adjacentes, inclinando a Oeste suas sumidades, coroadas de verdura, até as pôr ao nível com o plano superior do terreno circunvizinho: a altura das Torres parece variar entre 70 a 100 palmos (15,40 m e 22 m); isoladas, entre si diferem  também de diâmetro, mais ou menos, de 20 braças, (44 m); é escarpada a Este e ao Sul, mas ela projeta ao Norte, na direção da praia, um plano inclinado formado de areia, que a faz, facilmente acessível desse lado; no alto daquela Torre, e sobre o terreno que prolonga sua sumidade a Oeste, estabeleceu-se a guarda e povoado das Torres, espécies de fortaleza natural na fronteira da Província.
            A 60 braças, (132 m), mais ou menos, da primeira Torre, levanta-se a segunda, menor diâmetro; e menos 15 braças, (33 m) desta aparece a terceira, que se acha quase ligada com a precedente por um rochedo piramidal intermediário, da mesma substância, e de forma assaz regular. O cume das duas últimas torres é coberto de uma belíssima relva; inclinando-se brandamente a Oeste até ao nível da estrada, que passa por trás e junto daqueles curiosos edifícios da natureza.
            Uma légua (6,6 m) ao Sul das Torres acha-se o outeiro verdejante de Itapeva, igualmente encostado a uns rochedos baixos, que o defendem do lado do mar: esse é o limite do oásis ao Sul, e o último suspiro de uma natureza acidentalmente aprazível; além, continua a eterna e triste cena das areias e da esterilidade.


Nicolau Dreys
Notícia Descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro.
1839

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Assim começou a aviação comercial em Torres.


"Muita gente acredita que com a construção do Aeroporto Regional de Litoral, na praia Paraiso, começa a era da aviação comercial  em Torres. Poucos sabem, porém, ela começa em 1927, ano em que a Varig inaugurou 3 vôos comerciais regulares Rio Grande-Pelotas-Torres, linha servida por 2 hidroaviões, o “Atlântico” e o “Gaúcho”, com tripulação e 6 passageiros. Aquaterrisava na lagoa da Itapeva, na ponta do porto dos Cunhas. O hidroavião pousava e uma canoa de porte médio apanhava os passageiros e levava-os para uma casinha às margens da Lagoa. Dali uma diligência conduzia os passageiros até a estrada do Casqueiro, via praia, até o Farol Hotel. Estes vôos duraram quase até os anos 50".

(fato relatado por Heitor Matos Carneiro)
O Almanaque das Torres
Sérgio Abel Anflor
maio/2000
produção: Jornal Gazeta

Hidroavião da foto:
Fairey Gordon – Aeronave de esclarecimento e bombardeio, versão anfíbia e terrestre, motor Armstrong Siddeley Panther de 550 hp, velocidade máxima de 145 mph, podendo carregar até 500 lb de bombas e ser armada com uma metralhadora Vickers à frente e uma outra Lewis no cockpit traseiro.
Foram adquiridas em 1931 pela Aviação Naval e utilizadas até 1943, quando foram desativadas pela FAB. (pesquisa: Pedro Inácio)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Porto Alegre a Torres, pelas lagoas.


Bernardino de Senna Campos

No dia 28 de fevereiro de 1894 o Telegrafista-Chefe da turma, Santo Elias, avisou-me que eu ia ser removido. Desta vez para mais próximo da minha terra. Era para Torres, extremo norte do Estado.

Felizmente, no dia 4 de março tive ordem do Engenheiro-Chefe para ser desligado da estação e preparar-me para seguir para Torres, junto com uns oficiais da Divisão do General Artur Oscar, que estacionava naquela localidade, cuja oficialidade, licenciada na Capital, teve ordem de regressar a seus corpos. Entre eles, inclusive, estava o Major Firmino L. Rego, filho de Santa Catarina.

Remoção para Torres

Como disse acima, fui removido para Torres a 4 de março de 1894.
Embarcamos no dia 6 do mesmo mês, às 6 horas da manhã, no trapiche do Arsenal da Guerra, conjuntamente com uns 25 oficiais do exército e muito fardamento, armas e munições para a Divisão.
Na véspera para não perder a viagem, hospedei-me no hotel Siglo perto da Alfândega, onde estavam hospedados os oficiais.

No vapor "Frederico Hanse"

Tendo comparecido ao nosso embarque o Dr. Júlio de Castilhos, Presi­dente do Estado, o Eng. Dr. A. Guilon, e algumas outras autoridades, partimos às 6:30. Perdemos logo de vista a bela cidade de Porto Alegre, deixando-me tristes recordações! (Só voltei ali 17 anos depois).
Às dez horas da manhã, o vapor, deixando o rio Guaíba e a Lagoa dos Patos, entrou na Lagoa de Palmares. Andando todo o dia 6 com pouca marcha, devido aos baixios da lagoa, à noite fundeamos na emboca­dura do rio Palmares.
Suspendendo o ferro, no dia 7, às 6 horas da manhã, chegamos a Palmares às duas horas da tarde, ficando o vapor muito longe do porto daquela povoação. Tivemos que ir em botes, que tem o nome de caíques.

Palmares

Desembarcando, hospedamo-nos num grande galpão de madeira, no porto de Palmares, pertencente a um Diehl, até a chegada de umas 20 carretas, que deviam estar ali nos esperando, para conduzir o armamento a Conceição do Arroio (Osório). Dali ia num outro vaporzinho. Ali esperá­vamos encontrar cavalo para nós.
Hospedamo-nos aí até o dia 10 de março de 94, quando partimos para Vila Conceição, tendo chegado na véspera uns 50 cavalos para nos conduzir, assim como carretas.
Não tendo eu trazido arreios, porque foi coisa que nunca tinha possuí­do, e era impossível fazer uma viagem de dez léguas montado em pêlo, por informações de algumas pessoas, pedi um lombilho emprestado ao coletor daquele lugar, um bom moço, por nome Pedro Amaral, que, cavalheiramente, emprestou-me e que devolvi de Conceição, escreven­do-lhe um cartãozinho, agradecendo.
Saímos de Palmares no dia 10, ao meio-dia: 25 oficiais e umas 25 praças da Guarda Nacional, ou Patriotas, como chamavam-se naqueles tempos os guardas-civis, debaixo de festas, gauchadas e carreiras pelo campo, todos divertindo-se ...
Chegamos no mesmo dia, às seis horas da tarde, numa fazenda denomi­nada "Pitangueiras". Aí pernoitamos, depois de jantarmos um carneiro ou dois que o dono da casa mandou matar para nós, divertindo-me muito por ver laçá-Ios.

Conceição do Arroio

Pernoitando na fazenda das "Pitangueiras", a 5 léguas de Conceição, partimos no dia 11 de março, às 7 horas da manhã, chegando à Vila Conceição do Arroio ao meio-dia. (Essa mudou o nome para Os6rio, em 1911). Hospedamo-nos, alguns num hotel, outros na casa de um tal Bran­dão, comandante do destacamento, chefe político, que morava s6. Eu hospedei-me em casa de meu colega telegrafista Mesquita encarregado da Estação.
A Vila de Conceição é de aspecto pobre e triste, mormente naquela época da Revolução, edificada junto a um morro que a divide da Serra. O morro faz frente a leste, donde descortina-se a vila, embaixo, e os campos, a perder de vista, ao norte, sul e leste, e inúmeras lagoas, rios, banhados, etç:. Tem pouca edificação, a não ser na praça, que é fechada de casinhas. Dentro, no centro, sua igreja, naquele tempo velha, com uma só torre. Do lado direito, fundos ao sul, o teatro e uma capelinha do Espírito Santo. Ao norte, ao lado esquerdo da praça, tem um pequeno sobrado, bem em frente à igreja, com frente para esta e para o morro. Numa pequena e modesta casinha está instalada a estação telegráfica. No correr desta e no canto da praça, uma grande casa antiga. É a municipa­lidade, que está servindo de quartel!
Fui muito atenciosamente acolhido pelo meu colega Mesquita, tele­~rafista de 2~ classe e já velho, cuja família compunha-se da senhora e de uma filha de ambos.
No dia 12 de março recebemos de Porto Alegre notícias que a esquadra qu(' () Governo Legal, Marechal Floriano Peixoto, mandara comprar na Euro
pa para bater os revoltosos, visto a nossa ter-se também revoltado, tinha chegado ao Rio de Janeiro e que os revoltos os no Rio tinham-se rendido ao Governo, havendo grande fracasso da Revolução.
Foi um dia e noite de regozijo na oficialidade, em Conceição. Soltaram muita foguetada. Aparecendo a música local, â noite houve passeata, discur­sos e bebedeira.

PingueIa

No dia 13 de março partimos todos com as carretas da munição, armamento, etc., para o porto da Pinguela, margem da lagoa do mesmo nome, ao norte da vila, légua e meia, a fim de tomarmos passagem num vaporzinho que faz viagens dali para Torres.
Chegando ali, tivemos a infausta notícia de que o referido vapor não tinha chegado de Torres, para onde tinha ido dois dias antes.
Na Pinguela existia outro grande galpão de tábuas, na beira da lagoa, depósito de pipas de aguardente. Pertencia, este galpão a um irmão do Diehl de Palmares, tendo junto uma pequena casa de negócios. O proprie­tário residia ali com sua família.
Felizmente, no dia 13 de março avistamos ao longe, noutro extremo da lagoa, onde há um sangradouro que dá passagem para outra grande lagoa, Lagoa dos Quadros, o nosso vapor, que vinha, a vara e vela. Má notícia!
Chegou, pouco depois o "Itapeva", nome do tal vapor, e era de rodas nos seus lados. Com a máquina partida, tinha-se quebrado um dos eixos das asas-rodas.
Existindo pouco distante dali, ao sul, uma grande destilação, num grande edifício, onde era também olaria e ferraria, o proprietário do vapor prometeu a um dos maquinistas e um ferreiro da destilação um conto de réis, para, em dois dias, darem a peça pronta e consertada, trabalhando os homens dia e noite: Conseguiram, no dia 16 dar a obra pronta. Colocan­do-a, fizeram experiência no vaporzinho e embarcamos nesse mesmo dia. Partimos para Torres no tal "transatlântico" "Itapeva", passando imensas lagoas e sangradouros, indo os passageiros (oficiais), no vapor, e um iate e uma chata de ferro a reboque, carregados com armamentos, munição, etc. e algumas praças. Foi uma viagem muito morosa, devido â pouca marcha da embarcação. Pernoitamos, na noite de 16 para 17, na entrada da Lagoa dos Quadros, saída do sangradouro da Lagoa da Pinguela. Saímos a 17, viajando todo esse dia e pernoitamos na embocadura da lagoa dos "Carnellos", lagoas e sangradouros cobertos de aguapés e abundantes de enormes jacarés, capivaras e pássaros aquáticos. Saímos daí a 18 e chegamos ao porto de Itapeva, distante da Vila de Torres légua e meia.
Aí encontramos o alferes Rosinha, alferes do 25º Batalhão e filho de Santa Catarina. Aqui esperava-nos com 25 cavalos. Logo desembarcamos. Às 4 horas da tarde montamos a cavalo e seguimos para Torres, todos em troça e pândegas.

Bernardino de Senna Campos
Organizado pelo Pe. João Leonir Dall’Allba
Memórias do Araranguá

Torres (18 de março de 1894)


Bernardino de Senna Campos
Chegamos à Vila de Torres, às 7 horas da noite, do dia 18 de março de 1894. Saiu nesta ocasião uma carreta, conduzindo o General Artur Oscar, comandante da Divisão do Centro, estacionado em Torres, que ia doente para Porto Alegre, passando o comando ao Coronel Salustiano.
Chegando a Torres, hospedei-me num quarto da estação, e não fui muito bem recebido pelo meu colega Manoel A. de Souza, apesar de esse colega de Torres dar-se muito comigo pelo aparelho, quando estava em Porto Alegre ...
(Depois soube que foi devido a intrigas feitas de Porto Alegre por um colega, por nome Gaudino, que já esteve em Torres com o Souza).
A Vila de Torres é pobríssima e está situada em cima de uns rochedos junto ao mar. São três montes que se erguem na praia isolada, sendo o do Norte onde está edificada a vila. De longe e do mar os três montes parecem torres. Daí veio o nome. Tratam as torres como sendo do Norte, do Centro e do Sul. A vila, como disse, é na encosta da do Norte, lado da Serra, fazendo frente ao poente.
Tem uma única rua, de norte a sul, as casas do lado de baixo são nos fundos assobradadas e dão para uma lagoazinha que há abaixo do dito monte. Em cima deste está edificada a igreja de São Domingos, padroeiro da vila.
Há umas casinhas ao norte dela, ao norte da vila 2 quilômetros, no lugar que chamam Potrêiro, passa o Rio Mampituba, que faz divisa com o município de Araranguá, em Santa Catarina.
Próximo à igreja, para leste, descortina-se todo o oceano, para oeste, a cordilheira da Serra, para o sul, a praia sem fim, que vai a Tramandaí, Cidreira, e, afinal, Rio Grande, e para o norte, as praias pertencentes já à minha terra, Santa Catarina.
Avista-se também dali, a meia-légua mais ou menos da costa, uma parcela de pedras, onde dizem haver muitos lobos marinhos!

Divisão do Centro/ Artur Oscar

Estacionava naquela ocasião, em Torres, uma coluna do exército, com 2.000 homens, composta do 4°, 11° e 25° Batalhões, tendo a totalidade da oficialidade do 25° catarinense. Estavam ali para guarnecer as fronteiras do Estado.
Tinham regressado de Tubarão e Araranguá, onde tinham ido em perseguição dos revolucionários, tendo neste último lugar dado combate ao vapor "Itapemerim", armado em guerra.
Na estação de Torres, a qual estava instalada na primeira casa da vila, ao sul, com fundos para a lagoa, havia, como carteiro, um bom pardo, chamado Lourenço. Este obteve-me pensão em casa de um velho negociante da Capital, que estava com negócio ali e era fornecedor da Divisão, chamado Leonidas Brandão, pagando 50 mil-réis mensais, visto não haver hotel em Torres. Isto para as refeições.
Meu colega de Torres, que era casado há um ano, cuja mulher estava de cama por recaída de parto, tinha dado à luz poucos dias antes da minha chegada, cedeu-me um quarto para residir na estação.
Em Torres travei relações com todos os oficiais, especialmente do 25°, e com alguns catarinenses foragidos ali, vindos de Laguna, Tubarão e Araranguá, entre eles o Dr. Polidoro de Santiago, que morava na Laguna. Na margem esquerda do rio Mampituba, pouco distante, estava acampado um Corpo Cívico de 200 homens, organizado na Vila de Araranguá, pelo filho daquele lugar, Apolinário João Pereira, que era comandante, com o título de Coronel.
Todas as tardes, quando estava de folga, passeava a cavalo com alguns oficiais. Às vezes transpunha o Mampituba e vinha beber em Santa Cata­rina.
A esquadra dos revoltosos, tentando a última cartada, atacaram a cidade de Rio Grande, de que foram rechaçados. A Divisão teve, na tarde de 4 de abril de 94, a ordem de seguir para o sul, isto é, para Porto Alegre. Com eles seguiu também meu fornecedor Brandão. Passei a comer em casa de uma viúva que morava em frente à estação, pagando 60 mil-réis mensais.

Regresso da Divisão a Porto Alegre

Partindo a Divisão na manhã de 6 de abril, debaixo de música, toque de corneta, foguetes, mulheres e crianças montados em bois, cavalos magros, etc., parecia um bando carnavalesco. Ficou a vila de Torres tristís­sima, só com os poucos moradores, e, guarnecendo-a, o 16° Batalhão da Guarda Nacional, organizado ali mesmo, sendo comandado pelo Coronel Capa Verde, que foi meu colega telegrafista. ( ... )


Bernardino de Senna Campos
Organizado pelo Pe. João Leonir Dall’Allba
Memórias do Araranguá

sábado, 2 de abril de 2011

A Hostilidade Indígena aos Povoadores do Nordeste do Estado.

Indios Coroados ou Kaiagangs

Fidélis Dalcin Barbosa 
Professor, Historiador, Jornalista e Escritor, Lagoa Vermelha, RS. 

Os índios Guainás, também conhecidos por Coroados, os atuais Caingangue e os Botocudos (Xoclen) da região dos Aparados, ofereceram tenaz resistência à penetração de toda a região do Nordeste do Rio Grande do Sul, hostilidade que durou cerca de cem anos, fazendo com que a ocupação dos Campos da Vacaria e Campos de Passo Fundo fosse retardada consideravelmente.
Os primeiros fazendeiros que se estabeleceram nestes campos, a fim de se prevenirem contra os assaltos dos gentios às suas casas e pessoas, conforme relata Manuel Duarte, viram-se obrigados a construir suas casas no alto de algum morro ou coxilha, de onde se pudesse avistar qualquer eventual aproximação dos indígenas.
Nos atuais municípios de Vacaria e Bom Jesus, ainda podem ser observadas ruínas destas casas no cimo de morros.
Nas proximidades da atual cidade de André da Rocha, onde os índios em 1851 assaltaram a fazenda do pioneiro Bernardino Fialho de Vargas, alteia-se um morro, perto da BR-470, que leva o nome de Morro da Vigia. Do alto deste morro, a família Fialho de Vargas, costumava colocar uma pessoa em missão de observação de algum bando de índios.
Os povoadores viram-se, por vezes, obrigados a lançar mão de armas a fim de expulsar os gentios, chegando a provocar matanças deles.
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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Porto de Torres

Os molhes de serviço da Guarita
Roberto Laitano Vellturella
Engenheiro Agrônomo

O interesse de construir um porto em Torres surgiu no período Imperial, esteve em evidência até o ano de 1875, ressurgiu em 1890 quando chegou quase a sua concretização, mantendo-se em desta­que até 1928, quando a idéia foi completamente descartada.
O projeto visava suprir as deficiências ocasionadas pela falta de um porto marítimo que pudesse receber com segurança os navi­os vindos de outras regiões para o sul e serviria para impulsionar o crescente desenvolvimento econômico da Província, uma das mais importantes do país.
Os governos imperial e provincial cogitavam construir um porto no Refúgio das Torres ou ampliar a abertura e a profundidade do canal do acesso da barra do porto de Rio Grande. Ao longo dos tempos foram elaborados diferentes projetos para a construção do porto de Torres, mas nenhum deles foi bem sucedido.
Quando era Presidente Provisório da República o Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, em dezenove de junho de mil oito­centos e noventa foi confiada à Companhia União Industrial dos Estados Unidos do Brasil a construção desse porto. A concessão foi oficializada através do Decreto n° 1382 de 1891. As sondagens e os levantamentos topográficos foram elaborados pela Comissão chefiada pelo engenheiro Luiz Rheingantz, escolhida a Praia Gran­de para a realização da obra.
Em 1892 foram iniciados os trabalhos preparativos para a construção de um pequeno molhe de serviço que serviria de abrigo às primeiras embarcações para o transporte dos materiais e equi­pamentos necessários à construção do porto. Na extremidade sul da Torre do Meio do atual Morro das Fumas, no lugar conhecido pelo nome de Ponte foi o local do onde foram retirados os blocos de pedras, para construção do molhe de serviço.
As explosões de dinamite na rocha deixaram sinais que ainda hoje podem ser observadas conforme se percebe na foto abaixo.
Na praia da Guarita foram estendidos trilhos e colocados vagonetas para o transporte dos blocos de pedras. Um começo de molhe rochoso foi lançado mar à dentro, na extensão de aproxima­damente cinqüenta metros.
Ainda hoje são visíveis os vestígios dos trabalhos realizados, destacando-se um pequeno trecho partindo da Torre do Sul. Os serviços foram desativados, ficando os equipamentos abandona­dos e os resquícios das obras se dispersaram ao longo do tempo. Fatores históricos contribuíram para fracassar a execução do pro­jeto elaborado por essa Companhia, como possível conseqüência foi à ocorrência no Rio Grande do Sul da Revolução Federalista (1893-1895) cujas lutas partidárias transformaram-se em uma lon­ga e sangrenta guerra civil.
Com o passar dos anos os projetos foram postos de lado e esquecidos devido às dificuldades técnicas, altos custos de im­plantação e também devido à falta de motivação política.
Devemos reconhecer nossa sorte nesse aspecto, eis que com a não concretização do porto, a paisagem não foi transformada e Torres permanece com suas inúmeras belezas naturais preserva­das, tornando-se um centro de lazer e turismo.

Gazeta – 11 a 18 de Janeiro de 2008
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