sábado, 27 de agosto de 2011

O porto de Torres

um século no Correio Povo
Pesquisa e edição: DIRCEU CHIRIVINO I chirivino@correiodopovo.com.br
No dia 21 de agosto de 1911 não houve edição do Correio do Povo. Na época o jornaI não circulava às segundas-feiras.
 O Porto de Torres

Quanto ao porto de Torres, é uma velha aspiração de todo o Estado, principalmente da zona do norte, que precíza de um porto no littoral, para a sua expansão e progresso.

Nenhuma ocasião é mais propicia que esta para se conseguir do governo da União um favor
. Na presidencia da Republica está um rio-grandense, e como leader da politica nacional outro, assim como um outro tambem como leader da maioria da Camara dos Deputados.

O Rio Grande, pois, domina a politica geral do paiz, e seria um desastre si não conseguissemos esse melhoramento, que é de interesse vital para o desenvolvimento do Estado.

Pudessemos nós, e esta
fita exhibiria aos olhos do Congresso Nacional todas as vantagens que nos adviriam si nos dessem o porto de Torres, e, por certo, nunca uma fita se desenrolaria com maior successo.

Max Linder

Crônica publicada no
Correio do Povo de 13/8/1911
A Grafia de época está preservada nos textos acima 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

MANIFESTO: POLO DE CINEMA EM TORRES




O mundo inteiro acompanha com preocupação o desenrolar da crise econômica mundial que arrisca extravasar para o campo social e político. Grandes e pequenas nações estão em busca de forças motrizes alternativas, capazes de impulsionar um novo ciclo de desenvolvimento compatível com as exigências de uma Nova Era marcada pelo peso dos serviços na economia e com a crescente importância da inteligência neste processo. A cultura já não é um adorno das classes privilegiadas. É um vetor decisivo da economia, especialmente no campo do turismo, quando se converte em empregos e renda. A combinação, então, de belezas naturais com atrativos culturais potencia a vocação turística de muitas cidades adequando-as a esses novos tempo. Parati, no Rio de Janeiro, tornou-se, com o Festival Internacional de Literatura, numa referência mundial. Gramado, aqui no RS, não foge à regra e fez de dois eventos culturais – o Natal Luz e o Festival de Cinema – o esteio de seu sucesso.

Torres é a mais bela praia do Rio Grande do Sul. Mas não pode viver eternamente à espera dos bons verões. Deve transcender sua majestade paisagística com novas atividades que a projetem como um grande pólo do turismo nacional e até internacional. O cinema, junto com outros eventos culturais, ligados à literatura, à gastronomia e à moda, podem lhe dar essa projeção. Trata-se, o cinema, de uma das mais prósperas indústrias do mundo e, em razão da crescente demanda de produtos áudio visuais , tende a se diversificar e ganhar ainda mais relevo. Com a vantagem das novas condições tecnológicas, diversas cidades no Brasil , a exemplo de Goiás Velho em Goiás, Araranguá, em SC, e alguns municípios do interior paulista, estão se transformando em verdadeiros pólos de atração de investimentos, talentos artísticos e de cursos de formação de profissionais do áudio visual – cinegrafistas, editores de vídeo, cenógrafos, figurinistas, atores etc. Torres já tem uma certa tradição em cinema. Três filmes foram rodados aqui, o primeiro deles, ainda nos anos 50 numa provável iniciativa de Alberto Ruschel.

Temos que aproveitar as condições naturais de Torres para dar um salto para o futuro. Vamos montar , aqui, o POLO DE CINEMA DE TORRES. Basta uma iniciativa da Prefeitura Municipal e algumas gestões com a ULBRA e SENAC, no sentido da criação de novos cursos ligados ao treinamento de pessoal para a indústria áudio visual para que isto se converta em realidade num curto espaço de tempo. Dois pontos de partida são fundamentais: (1) uma boa sala de cinema, que já temos, no Dunas Flat e que pode ser adquirida pela Prefeitura para sediar um Festival Anual de Cinema e (2) um galpão para uso das produtoras e diretores de filmes, que bem pode ser o ginásio da Lagoa, hoje abandonado e em vias de demolição. Com estes passos e franco apoio da Sociedade torrense poderemos transformar nossa cidade na referência rio-grandense do áudio-visual.


Pelo POLO DE CINEMA de Torres . Todos à LUTA.

Em Torres, 04 de julho 2011

PAULO CEZAR TIMM – Editor de Torres Revista Digital

Subscrevem:

Edgar Henrique Klever
L.Gonzaga Inácio
Bento Barcelos da Silva
Padre Leonir – Radio Maristela
Juarez Espindola
Nilson Rodrigues da Silva
Edison Estevão

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Mistério: os ossos achados em Torres

A rotina de Torres foi quebrada com o achado de duas ossadas humanas durante uma escavação. As hipóteses são muitas, mas apenas uma é aceitável.
21 de Maio de 1973 – Folha da Manhã

Sexta-feira de manhã, quando as pás dos operários, Pedro Manoel da Rosa e Edu dos Santos Cardoso, tocaram nas ossadas de duas pessoas num terreno do centro da cidade balneária de Torres, a rotina do lugar estava sendo quebrada. E logo em seguida, depois da formal comunicação ao delegado de policia, tomou-se uma decisão para tentar elucidar o mistério: convocou-se uma reunião das pessoas mais idosas, que foi realizada no sábado, com alguns resultados satisfatórios.
Empregados da Construtora Ernesto Woebeke, os operários cavavam os futuros alicerces do Centro Comercial de Torres, num terreno próximo à Sociedade de Amigos da Praia de Torres (SAPT), na Rua José Picoral, quando suas pás tocaram nos ossos de um crânio. Nas escavações seguintes, já comandadas pelo delegado Rubens, descobriu-se outro crânio menor, partes das ossadas de duas pessoas e os retos de um caixão adornado com rendas e linho.
Muitas hipóteses
Algumas das hipóteses levantadas para explicar o achado poderiam ser consideradas absurdas. Uma delas dizia que os mortos seriam prisioneiros das forças legalistas da revolução de 1893, quando mais de mil homens estiveram acampados em Torres. Diz-se que, na época, vários prisioneiros e desertores foram degolados e enterrados na região. Outra hipótese: os ossos seriam de escravos ou, quem sabe de jesuítas.
No sábado de manhã, o delegado Rubens, que já tinha também as duas hipóteses, um crime passional, em que o marido mata o casal de amantes e enterra nos fundos de casa ou duas vítimas de uma peste como a varíola, resolveu chamar pelo rádio, “todas as pessoas que estejam a par da história do município”.
À tarde, os depoimentos dos historiadores ou simplesmente pessoas de idade avançada começavam pela reconstituição do lugar. O terreno vizinho à sede da SAPT foi comprado há três anos, pelos proprietários do Farol Hotel aos herdeiros do desembargador Vieira Pires, que residiu lá por mais de 25 anos, informou Olinda Cidade Resende, 53 anos, filha de um pesquisador da história da cidade, já falecido. O local onde foram achados os ossos era o pátio da casa de estuque.
Manoel Alexandre Gonçalves, o Nequinho Alexandre, 73 anos, reside próximo ao local há 35 anos: “Quando eu era guri novo, havia ali uma cruz, que não sei por que chamavam de Santa Cruz. A procissão de São Domingos, saída da igreja e fazia uma parada ali na cruz onde todos rezavam. Eu ouvia dizer que um casal pedirá para ser enterrado junto no morro”.
Segundo Nequinho Alexandre, quando a casa do desembargador foi construída a cruz já não estava mais. E conta que, por volta de 1930, “ali foi o armazém de Eliomar Martins, que fornecia comida para as forças getulistas, que pagavam com vales e talvez por isso o Eliomar morreu pobre”.
A existência anterior dessa cruz comprovada pelos depoimentos de muitos moradores antigos, começou a desfazer uma parte do mistério. O advogado Moises Camilo de Farias, 73 anos, ex-prefeito de Torres, subitamente viu-se envolvido em lembranças do passado: “Era uma cruz de madeira, com um metro e meio mais ou menos. Estava encravado num pedestal de escadas, feito de estuque (composição de barro em armação de madeira) coberto com cal. Nós crianças, brincávamos em redor dela e os adultos promoviam festas religiosas na Santa Cruz”.
As palavras do ex-prefeito, somou-se o depoimento de outra ex-autoridade, o exator aposentado Idilio Ferreira Porto, 82 anos, que acrescentou que a cruz foi transferida “para o lago norte da Igreja de São Domingos das Torres talvez há mais de 35 ou 40 anos”. Mas também criou uma dúvida: “Nunca ouvi falar que houvesse alguém sepultado sob a cruz. E ali também nunca foi cemitério, disso tenho absoluta certeza”.
Versão aceita
No fim da tarde de sábado estava sendo aceita uma versão para justificar a procedência do achado: seriam os cadáveres dos doadores de uma sesmaria de terra para a igreja. Mário Krás Borges, pesquisador da história do município, diz que o historiador Dante de Laitano encontrou documentos da doação, que teria sido feita pelo Império as famílias Rodrigues e Martins. E seguindo a tradição da época, quem ganhava sesmarias costumava doar uma parte a algum santo. E a igreja de São Domingos das Torres teria se originado assim.
Na colônia de pescadores da margem esquerda do rio Mampituba, do lado catarinense, moram os bisnetos de Manoel Rodrigues. Eles supõem que os ossos encontrados sejam de seus bisavós, Manoel Rodrigues, o Neco, e Cândida Maria Purcina. Eles receberam, em data que ninguém sabe especificar as terras onde hoje é o centro de Torres, Neco doou uma légua em quadra (seis quilômetros quadrados) e foi morar em outras terras, de duas léguas e meia em quadra, do lado catarinense.
Manoel Rodrigues, bisneto de Manoel Neco Rodrigues, não afirma que os ossos encontrados nas obras do Centro Comercial de Torres sejam de seus bisavós. Mas garante que, “se for um homem e uma mulher, podem ter certeza que são eles. Quando estes doaram o terreno para o santo, pediram para serem enterrados ali. Não lembramos bem o local, porque tudo era campo aberto, mas  ficava naquele morro onde esta a cidade”.
E Maria Batista da Silva, 82 anos, “antiga amiga dos Rodrigues”, garante que os ossos são do “velho Neco e sua mulher. Eu conheci a cruz que ficava no pátio da casa. Quando eu era menina, minha mãe dizia que ali estavam enterrados o Neco e a dona Cândida.
As mesmas dúvidas
Esta semana, quando as ossadas forem enviadas ao IML para entre outras coisas, precisar a data aproximada da morte, a situação pode ficar ainda mais confusa que agora. Segundo a memória dos velhos moradores de Torres e dos descendentes de Neco Rodrigues, os ossos seriam da metade do século passado e nada indica que pudessem manter-se praticamente intactos, inclusive com madeiras dos caixões ainda com pedaços de rendas.
O achado, que provocou o encontro animado das pessoas mais antigas de Torres durante dois dias, também serviu para que todos, lembrassem o velho Neco Rodrigues, um homem abastado que tinha 80 escravos e enormes extensões de terras no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Segundo seus descendentes, a igreja São Domingos das Torres foi construída pelos presos da Fortaleza de Ipiranga em 1824. Mas teria sido Neco Rodrigues que mandou construir o muro de pedra da Torre do Centro (há uma torre do sul e outa do norte da cidade), que seria um potreiro para reunir cavalos.
21 de Maio de 1973 – Segunda-Feira
Dos arquivos do Correio do Povo
Reportagem pesquisada pelo historiador João Barcelos da Silva