quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Pontal da Solidão - Torres 1974



Pontal da Solidão: "um filme estranho e bonito"

"Pontal da Solidão", produzido, no Brasil, em 1974, foi o segundo trabalho de Débora Duarte no cinema, depois da sua estréia cinematográfica em França, quatro anos antes, como protagonista do filme "Céleste".

Com roteiro de Alberto Ruschel e Lima Barreto e direção de Alberto Ruschel, o filme de 88 minutos tem no seu elenco, além de Débora Duarte e do próprio Alberto Ruschel, ainda: Ricardo Hoepper, Beto Ruschel e Ondina Moura.

Tal como "Céleste", "Pontal da Solidão" é um filme extremamente raro, valendo, por isso, o testemunho deixado por este artigo que aqui se reproduz e que foi originalmente publicado em 1979, n' O Estado de São Paulo:

«Um dos filmes mais esperados da moderna produção nacional. Estreando como diretor-autor, Alberto Ruschel situa-se num plano diverso de quase todos os seus colegas atores (Dionísio Azevedo, Jece Valadão, Aurélio Teixeira, Egidio Eccio, David Cardoso, John Herbert, Sergio Hingst) que também passaram à realização, obtendo uma obra certamente alheia a certos cânones, mas sem nunca desdenhar o insólito, o inédito, o poético, o extremamente pessoal, o absolutamente seu. A ação, praticamente um duo. Um velho marujo que vive num lugar isolado. A menina (Débora Duarte) que foge de uma provação pensando em suicídio e coloca-se sob sua proteção. E a volta dos criminosos, que ainda pensam em se vingar de sua vítima. Um filme estranho e bonito, “rodado” em maravilhosos locais do Rio Grande do Sul e que precisa ser devidamente apreciado.»
O Estado de S. Paulo, 14.10.1979


Alberto Manuel Miranda Ruschel, mais conhecido como Alberto Ruschel (Estrela, 21 de fevereiro de 1918  Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1996), foi diretor, produtor e roteirista de cinema, e ator de cinema e televisão brasileiro.
Atuou em mais de trinta filmes e chegou a dirigir um, Pontal da Solidão, em 1973.
pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Ruschel

Débora Duarte




sexta-feira, 25 de maio de 2012

Quanto ao porto de S. Domingos de Torres



Há um século no Correio do Povo

Pesquisa e edição: DIRCEU CHIRIVINO I chirivino@correiodopovo.com.br 

No dia 8 de abril de 1912 não houve edição do Correio do Povo. Na época o jornal não circulava às segundaS-feiras

Tramandahy- Torres
2' parte

• Quanto ao porto de S. Domingos de Torres, é relativamente facil a sua feitura.

Basta um perfunctorio exame da situação daquellas tres montanhas denominadas Torres, para se compreender que em éras remotas o mar já as circundou por completo.

A torre do norte, onde está situada a pequena villa de Torres, poderá ser facilmente circundada por um canal de 60 metros de largura com uma profundidade de 10 metros.

Defrontando ambas as bocas do canal, a dous kilometros, mais ou menos de distancia, e numa situação mais ou menos equidistante de ambas as entradas, existe a ilha dos Lobos, extenso rochedo de pedras, à flór das ondas, servindo de quebra mar ou rompe alas, collocado ali pela natureza, para tornar ainda menos açoitada aquella costa, já aliás defendida pela grande curva que vem do saliente cabo de Santa Martha na costa de Santa Catharina.

Um pharol na ilha dos Lobos e dous mais, um em cada cabeça dos molhes do canal, permitirão a entrada franca á noite, a qualquer navio que demande Torres.

Uma vez dentro do canal, está o navio ao abrigo de qualquer temporal, havendo o cáes do lado de Torres ou do lado de Porto Alegre para respectiva atracação, conforme o destino de carga ou de  passageiros.Este canal, cuja feitura é facil, não custará mais de 12 a 14 mil contos. Os molhes que serão pouco extensos, visto ser essa costa ahi muito profunda, poderão importar em 15 mil contos.
O cáes propriamente dito, com todas as suas installações de guindastes, armazens, etc. custará, também, cerca de 15 mil contos.

De modo que o porto de Torres, com o mais completo exito, e num praso nunca superior a 6 annos, custará ao Estado do Rio Grande do Sul a soma total de 60 miJ contos, que reputamos quantia exígua, attento aos resultados presentes e futuros que esse notavel melhoramento trará para toda a nossa expansão economica e commercial, não só com os Estados da União, como com os paizes  extrangeiros, americanos ou europeus.

 
Qualquer engenheiro capaz e observador, que examinar o que fica expendido neste artigo, reconhecerá a profunda verdade de tudo quanto aqui affirmamos.

Quem escreve estas linhas, conhece de visu e attenta observação a grande enseada de Torres e o traçado da futura estrada de ferro.

O porto artificial de Torres, conforme acima está delineado ou descripto, terá a forma de uma curva parabolica cuios extremos ao norte e ao sul da Torre do norte serão as entradas para os navios que ahi aportarem.

Seu desenvolvimento será de dous  kilometros aproximadamente, havendo, portanto quatro ouilometros de cáes para as atracações respectivas, fóra pequenas docas para embarcações miudas. As manobras serão facitlirnas. e as atracações tambem, uma vez o barco dentro do canal.

Segundo promessa formal do exmo. dr. Borges de Medeiros, em entrevista que concedeu ao director desta folha, o seu governo cogitará da realisação deste magno problema para o Rio Grande do Sul.
Poderia entrar em maiores detalhes, mas reservo para outra occasião o desenvolvimento e a demonstração pratica das idéas que aqui ficam rapidamente expendidas.

Tramandahy, março de 1912
Cassius Lecomte
Correio do Povo, 22/3/1912


sábado, 28 de abril de 2012

Araranguá quer ser anexado ao Rio Grande



O TORRÊNSE

Ano I – Tôrres – 1º Quinzena de Abril de 1949 – R. G. do Sul – N. 6
Araranguá quer ser anexado ao Rio Grande

O prospero município vizinho tendo derrotado os Ramos nas últimas eleições teve como consequência, seu território reduzido a uma nesga quase inútil de terra.

Pela primeira vez na nossa história, será pedida a aplicação do artigo 2º da Constituição Federal.


De regresso da Capital da república aonde foram expor a pretensão da desanexação de ARARANGUÁ do Estado de Santa Catarina, passaram por essa cidade Affoso Ghizzo e Artur Campos, respectivamente Prefeito Municipal e presidente da Câmara de Vereadores desse município.
A propósito do assunto, inédito em nosso país, a reportagem do “O TORRENSE” procuraram ouvir os líderes desse movimento, os quais com simplicidade que lhes é peculiar, relataram a esperança de se tornar realidade essa aspiração.
Sob todos os aspectos justifica-se nossa aspiração, diz o Sr. Affonso Ghizzo; historicamente porque, conforme demostrou Oliveira Viana foi através da faixa de Araranguá que penetrou uma grande leva de povoadores do Rio Grande do Sul. Geograficamente Araranguá está encravada no território gaúcho, limitando com os municípios de Bom Jesus, São Francisco de Paula e Torres e apenas com um município de Santa Catarina que é Criciúma.
Economicamente, todo o comércio de importação se faz por intermédio de firmas porto-alegrenses, quanto a exportação se destina ao Rio e portos do Norte.
Socialmente também estamos ligados à Porto Alegre, que hospitaliza os nossos doente e abriga os desamparados da sorte.
Ainda agora consegui quatro escolas rurais, bem como a estrada que liga Araranguá ao passo José Inácio.
O Sr. Artur Campos assim se manifestou sobre o palpitante caso;
“A população de Araranguá foi levada a esse gesto extremo de repudio ao Estado a que pertence administrativamente devido á insuportável situação criada pelo governo do Estado com odiosas perseguições cuja única origem reside na vitória do partido oposicionista, a UDN, no último pleito municipal. Antes mesmo dessa vitória, já as ameaças eram feitas com a intenção de amedrontar os eleitores e os candidatos oposicionistas.
Realizadas as eleições e verificada a vitória da UDN, concretizaram-se as ameaças da polícia a mando do governo do Estado, que está nas mãos do PSD. O partido situacionista, orientado pelo Sr. Nereu Ramos, estabeleceu um clima de intranquilidade em Araranguá. Não há segurança e as ordens emanadas dos poderes públicos são controladas pelos representantes legais do governo do Estado no Município, e seus distritos.
As obras públicas, como hospitais e escolas, estão paralisadas por determinação do governo de Florianópolis, dominado pela oligarquia dos Ramos.
Não satisfeito, o situacionismo promoveu o desmembramento do município criando-se o novo Município de Turno.
A zona produtiva por excelência passou a constituir o último município, ficando para o de Araranguá a zona arenosa das praias, as zonas alagadiças, as lagoas e alguma terra cuja produção de maior vulto é a mandioca.
Pretende-se, com isso, estrangular, economicamente, o município de Araranguá.
Atos como esse são, aliás, condenados pelo presidente da República, na sua Mensagem ao Congresso Nacional, apresentado na abertura da atual gestão legislativa. Lê-se com efeito, a pagina dez do referido documento: “O que se afigura inadmissível, e falo-vos com tristeza, é que a uma experiência como a do fortalecimento financeiro dos Municípios, que pode ser grandemente fecundada para o país, se retirem as características revitalizadoras, dessangrando-os em movimentos de cissiparidade puramente eleitoral”. É o caso típico de Araranguá, inspirado pelo Nereu Ramos, vice-presidente da República, que pretende ser o candidato das forças democráticas do país à sucessão do general Eurico Dutra...”
Enfim, em Araranguá estamos acostumados a esperar tudo do Rio Grande e nada de Santa Catarina! Por isso mesmo 80 por cento da população é pela anexação ao Rio Grande. Que venha, pois, o plebiscito que nos foi negado pela assembleia Legislativa de Santa Catarina!”.

Nota da redação. O artigo 2º da Constituição de 1946 reza:
“Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros ou formarem novos estados, mediante a voto das respectivas assembleias legislativas, plebiscito das populações diretamente interessados e aprovação do Congresso Nacional”. Com o efeito a Câmara Municipal e o Prefeito de Araranguá, município do Estado de Santa Catarina, solicitaram o seu desmembramento daquele Estado e a anexação ao Rio Grande do Sul!

Direção de Moacir Indio da Costa e H. S. Padilha. Quinzenário Independente.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"CAMINHO DA SANTINHA" VAI FECHAR


O “Caminho da Santinha”, no sopé do Morro do Farol, em Torres, vai ser fechado. Existe risco de deslizamento de terra e desmoronamento do morro.

O local é um ponto de atração turística e de romaria de fiéis de N.S. Aparecida. Reuniões entre a Prefeitura e o Ministério Público do Estado já foram realizadas. Na última delas, dia 18 de janeiro, o MP deu um prazo de 20 dias úteis – a expirar dia 15 de fevereiro – para que a Prefeitura impeça o trânsito de pessoas no local e busque uma outra área para colocação da imagem da santa.

Segundo a Assessoria de Imprensa do MP consultada ontem pelo DIÁRIO Gazeta, a prefeitura é a responsável pela área e deverá remover o piso de concreto que costeia o Morro do Farol, recompor a vegetação de forma a dificultar o trânsito de pessoas pela área, colocar placas de aviso (já existem duas alertando sobre o perigo de desmoronamento) e encontrar um novo local para colocação da imagem da santa.

Incrustada no morro do Farol existe uma pequena gruta com acesso por duas escadarias, onde há uma imagem de N.S. Aparecida. Ali os fiéis depositam oferendas e pagam promessas. Esse pequeno santuário foi criado há cerca de 20 anos, bem como cimentado o caminho de terra natural. No início era até iluminado, mas o sistema foi retirado também por ação do MP.

Os fiéis recolhem água que verte do morro e colocam placas de agradecimentos a graças alcançadas. É comum também a realização de missas no local. Ocorre que já há algum tempo vem se verificando deslizamentos de terras e pedras do morro. Há cerca de 20 anos uma enorme pedra pesando toneladas despencou da face Leste do Morro do Farol. O Morro do Farol é um dos três que compõem as “Torres” e dão origem ao nome da cidade. Essa trilha era usada há 2, 3 mil anos pelos índios Carijós e Arachanes que habitavam a região.

O morro é formação vulcânica que foi se depositando em camadas há milhões de anos. Sua origem é a mesma da Serra do Mar. As pedras estão sobrepostas uma às outras. Além da infiltração da água da chuva entre as rochas, existem trilhas turísticas pelo meio do morro e atividades de “rapell” (escalada com cordas). O “Caminho” é freqüentado diariamente por milhares de turistas, veranistas, moradores e fiéis.

Seg, 30 de Janeiro de 2012 22:16Fonte: Diário Gazeta de Torres

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Há um século no Correio do Povo




Pesquisa e edição: DIRCEU CHIRIVINO | Chirivino@correiodopovo.com br CORREIO DO POVO

O porto das Torres
CP MEMORIA


Nova tentativa de construcção
Negociações a respeito


No Itajubá, partiu, hontem, para o Rio de janeiro, onde demorar-se-á um mez, o sr. Alfredo Dillon, commerciante da praça da capital ingleza. Ha dias que o dr. Dillon se acha­va em Porto Alegre, tendo vindo de Londres em companhia do seu se­cretario, sr. A. M. dos Santos, tam­bém do commercio daquella praça O sr. Dillon, que é rio-grandense, desde que transferiu residência pa­ra a Inglaterra, ha 20 annos, tem feito, nesse paiz, efficaz propagan­da do Rio Grande, quer nos centros commerciaes, quer no mundo finan­ceiro.

Possue elle, em seu estabelecimen­to commercial, amostras de todos os productos agrícolas e industriais do Rio Grande.

O tema principal de sua viagem ao Brazil foi tratar da construcção do porto das Torres, empreza que to­mou a peito desde 1891, e por cuja realisação muito se tem esforçado. Naquella época, o sr. Dillon chegou a obter do então presidente da Re­publica, marechal Deodoro, uma concessão para a construcção do porto das Torres. Tendo, porém, sido demoradas as obras, o praso da concessão exgotou e o privilegio caducou. Nesses trabalhos, foi elle auxiliado pelo finado dr. Trajano Viriato de Medeiros.

Vendo o seu trabalho perdido, o dr. Dillon recommeçou campanha, ten­do tido ensejo, agora, em sua via­gem para o Rio Grande, dc se esten­der a respeito, no Rio, com o sena­dor Pinheiro Machado Este, em conferencia com o sr Dillon, declarou-lhe que, si fosse preciso, envidaria todos os seus esforços para a abertura do porto das Torres.

O senador Pinheiro prometteu es­crever, nesse sentido, aos drs Car­los Barbosa, presidente do Estado, e Borges de Medeiros, chefe do par­tido republicano.

Aqui chegando, o sr. Dillon procu­rou, logo, o presidente do Estado, com quem teve demoradas confe­rencias.

Mostrou elle as grandes vantagens dessa obra, para o Rio Grande do 5ul, principalmente para a região serrana, que por ali poderá, perfeitamente, exportar gado. Disse elle que, actualmente, apezar dos agricultures do município de Torres já estarem sobrecarregados de impostos, a renda municipal, ali, é exigua, provindo, dahi, a decadên­cia da villa.

Fez ainda considerações sobre o importante empreendimento, procu­rando demonstrar que a construcção do porto de Torres offerece mais vantagens que as obras da barra do Rio Grande. Com relação a estas, citou, ao presi­dente do Estado, as palavras do senador Pinheiro. Mostrou, tam­bém, mappas e photographias da villa de Torres e dos tres outeiros de pedra e terra, situados na praia da villa, quasi a prumo, pelo lado do oceano, e chamados Torre do Norte, Torre do Meio e Torre do Sul. O dr Carlos Barbosa manifestou sympathia pela iniciativa do sr Dillon e prometteu estudar a ques­tão, dizendo ser provável que o governo do Estado faça esse importan­te melhoramento, tão vantajoso para os rio-grandenses. Accrescentou que, caso fique decidi da a execução das obras, o governo ou fará um empréstimo, para realisá-las, ou fornecerá o material ne­cessário a quem se encarregar das mesmas.

O sr. Dillon, em resposta, disse que si fôr fornecido o material, elle se encarreeará de arranjar, na Europa, o capital preciso.

Conversas com Borges de Medeiros

O sr. Alfredo Dillon também confe­renciou, duas vezes, com o dr. Bor­ges de Medeiros, que louvou o seu patriotismo e os seus esforços em prol do Rio Grande
Caso se faça, no novo porto será construído uma linha férrea que ligará Torres a Porto Alegre.

Notícias publicadas no Correio do Povo de 30/7/1911

Porto das Torres - O dr. Borges de Medeiros, chefe do partido republi­cano, recebeu do dr. Homero Baptis­ta, deputado por este Estado, o se­guinte Telegramma: "Rio, 10 - Bancada apresentou, ho­je, conforme vossa indicação, pro­jecto autonsando presidente da Re­publica realisar, mediante concurrencia publica, obras necessárias construcção porto das Torres, accôrdo decreto 14 de fevereiro 1907, podendo ettectuar crédito Abraços Homero Baptista " Noticia publicada no Correio do Povo de 12/8/1911


A grafia de época está preservada nos textos acima

N. R. - Segundo a noticia acima, des­de 1891 se cogitava a construção de um terminal portuário em Tor­res. Em nossas pesquisas diárias até a presente data, não flagra­mos outras informações consistentes sobre o assunto.




sábado, 3 de setembro de 2011

O inimigo que não veio


Soldados da Brigada Militar entrincheirados na divisa
 do Rio Grande do Sul com Santa Catarina em 1961 
Crédito: ACERVO DO MUSEU DA BRIGADA MILITAR / DIVULGAÇÃO / CP
Parecia cena de filme. Um grupo de jovens soldados, na faixa dos 20 anos, parte de Porto Alegre em direção a Torres, no Litoral Norte, para proteger o Rio Grande do Sul de uma possível invasão da Marinha. No percurso, entoam "Canção do Expedicionário" e recebem o apoio da população. "Da avenida Assis Brasil até Gravataí havia muita gente na rua abanando e chorando, como se fosse um desfile militar", recorda o coronel reformado da Brigada Militar Jerônimo Santos Braga.

Foram duas semanas de tensão, em setembro de 1961, à espera de um inimigo que não veio. Dizia-se que a Marinha já estava preparada para promover um desembarque na costa gaúcha, a fim de combater a resistência comandada por Leonel Brizola em defesa da Legalidade. Por isso, era necessário proteger Torres, porta de entrada para o litoral do Estado. Para que o policiamento das cidades não fosse prejudicado, boa parte dos soldados enviados a Torres era formada por jovens alunos do terceiro ano do Centro de Instrução Militar - caso de Braga, que na época tinha 22 anos. Ele e os colegas não tinham a noção exata da gravidade da situação, mas prontamente responderam ao chamado. "O que mais nos movia era aquela coisa do espírito de tropa, de ser gaúcho e estar em um evento importante", explica Braga, hoje com 72 anos. Inspirado no avô Jerônimo Teixeira Braga, morto em combate como oficial comissionado, em 1932, o jovem havia ingressado na Brigada Militar aos 17 anos.

Mesmo que o combate tenha sido evitado, os dias em Torres foram marcados por contratempos. A começar pela viagem: o comboio com cerca de 80 veículos levou mais de 12 horas entre Porto Alegre e o destino final, percurso que em condições normais pode ser feito em três horas. Mas, em uma situação de guerra, todo cuidado é pouco. "Havia a observação da força aérea de que à noite os veículos tinham de trafegar a uma certa distância e sem luz", justifica o então aluno-soldado.

Ao chegar em Torres, por volta das 6h, a primeira surpresa: um avião sobrevoou o local onde as tropas estavam situadas. O comandante da companhia, capitão Odilon Chaves, tratou de conter os mais exaltados, pedindo que ninguém atirasse. Mais tarde, a frustração: o café da manhã não fora providenciado e os soldados ficaram sem comer. O mesmo ocorreu com o almoço e a janta. Para piorar ainda mais, chovia muito e, à noite, não foi possível terminar a montagem da posição. "Tivemos de dormir enrolados em lonas, fora dos abrigos, que estavam cheios d''água", conta Braga. A recompensa veio no dia seguinte, quando cada soldado recebeu café preto com graspa e duas bananas.

A linha de defesa foi montada em meio aos morros de Torres, próximo de onde hoje está localizada a Estrada do Mar. A rotina consistia, principalmente, em cavar buracos e preparar os abrigos antiaéreos para se proteger de uma invasão. "É uma movimentação estratégica para informar ao adversário que estamos preparados. Nos deslocamos para isso e para tentar dissuadi-los (a invadir o RS)", diz Braga. As unidades mais próximas ao mar ficavam atentas às luzes que pudessem surgir na água, sinal de que o inimigo se aproximava. Durante o dia, os soldados evitavam se deslocar para não serem percebidos pela observação aérea. O temido desembarque dos navios não ocorreu porque, segundo a imprensa da época, o "mar estava grosso". "Mar grosso é o mar muito picado, com muita onda, revolto e que impede a estabilidade das pequenas embarcações", explica o coronel reformado. No livro "Nós e a Legalidade", o capitão Odilon Chaves afirma não ter notado grandes alterações no mar. A tropa, então, passou a ser chamada de "mar grosso", pois acreditava-se que a presença da Brigada Militar, e não as águas revoltas, havia impedido a invasão.

Em um certo dia, Braga e um colega foram designados a instalarem-se em local longe do acampamento, onde acenderam uma fogueira para despistar o inimigo sobre a localização da tropa. Logo apareceram alguns agricultores, de quem os soldados compraram alimentos. Famílias e muitas crianças moravam nas redondezas. Foi então que o jovem soldado percebeu que o combate não ocorreria. "Certamente eles sabem que há civis e crianças aqui", disse Braga aos colegas na época. Três dias depois, a tropa recebeu ordem para voltar a Porto Alegre.

Com ou sem mar grosso, Braga considera positivo o desfecho daquele episódio - já que as consequências de um enfrentamento poderiam ser trágicas. "Haveria muitas mortes principalmente para a população civil. Imagine Torres sendo bombardeada", afirma. O coronel entrou para a reserva da BM em 1990, foi presidente da Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas (Corag) e hoje dirige a editora da Pontifícia Universidade Católica do RS (Edipucrs). Apaixonado por comunicação, guarda em seu gabinete o rádio pelo qual a mãe ouvia, aflita, as notícias sobre o combate que não aconteceu. Ciente de que cumpriu o seu dever, hoje ele brinca ao contar a aventura para o neto. "A guerra não saiu de preguiça, mas que eu fui, eu fui."
ANO 116 Nº 335 - PORTO ALEGRE, QUARTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE 2011   ESPECIAL > correio@correiodopovo.com.br


sábado, 27 de agosto de 2011

O porto de Torres

um século no Correio Povo
Pesquisa e edição: DIRCEU CHIRIVINO I chirivino@correiodopovo.com.br
No dia 21 de agosto de 1911 não houve edição do Correio do Povo. Na época o jornaI não circulava às segundas-feiras.
 O Porto de Torres

Quanto ao porto de Torres, é uma velha aspiração de todo o Estado, principalmente da zona do norte, que precíza de um porto no littoral, para a sua expansão e progresso.

Nenhuma ocasião é mais propicia que esta para se conseguir do governo da União um favor
. Na presidencia da Republica está um rio-grandense, e como leader da politica nacional outro, assim como um outro tambem como leader da maioria da Camara dos Deputados.

O Rio Grande, pois, domina a politica geral do paiz, e seria um desastre si não conseguissemos esse melhoramento, que é de interesse vital para o desenvolvimento do Estado.

Pudessemos nós, e esta
fita exhibiria aos olhos do Congresso Nacional todas as vantagens que nos adviriam si nos dessem o porto de Torres, e, por certo, nunca uma fita se desenrolaria com maior successo.

Max Linder

Crônica publicada no
Correio do Povo de 13/8/1911
A Grafia de época está preservada nos textos acima