sábado, 25 de setembro de 2010

Nicolau Dreys

Notícia Descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro

Nicolau Dreys
1839

A praia do Mampituba está coberta, até quase uma légua (6,6 km) ao Norte da boca do rio, de abundantes madeiras secas, de árvores inteiras evidentemente trazidas pelo rio, e arrancadas de suas margens ou pelas águas, ou pelos ventos, certamente os ventos Sul, os mais impetuosos nessas regiões; esse vasto ossuário vegetal, essa multidão de esqueletos lenhosos, batidos das marés, que já os têm enterrado em grande parte debaixo das areias, não deixam de ser pitorescos; afetam todas as atitudes; alguns estão em pé, parecen­do desafiar o poder das águas e dos ventos; outros, já meio sepul­tados, conservam para fora grandes ramificações, como braços es­tendidos para o Céu; a maior parte está inclinada no horizonte sob vários ângulos, e todos esses- paus, entre os quais se notam al­guns de tamanho gigantesco, apresentam uma cor denegrida, como se houvessem sido expostos à ação do fogo: efeito sensível da absorção do oxigênio, que operou na superfície uma sorte de combustão.

Em presença depósito que se observam geralmente na embocadura de  quase todos os rios dessa costa, sempre em proporções relativas à extensão de seu curso  e à abundância dos matos de suas ribeiras, o viajante não pode deixar de afigurar-me assistindo à formação dos primeiros elementos fóssil combustível: dia virá em que as aluviões do rio, tendo já repelido o Oceano para longe de suas atuais barreiras, virão superpor ao solo presente novas nateiras; o rio mesmo, seguindo o Oceano na sua retirada, irá despejar suas águas a distância mais remota, enriquecendo ou prolongando o terreno intermediário de seus tribu­tos seculares; então uma mina de carvão de pedra abrir-se-á nesse lugar para as gerações futuras, quando a tradição do mecanismo de sua formação já se tiver apagado entre elas.

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