O TORRÊNSE
Ano I – Tôrres – 1º Quinzena de Abril de 1949 – R. G. do Sul – N. 6
Araranguá
quer ser anexado ao Rio Grande
O prospero município vizinho tendo derrotado os Ramos nas
últimas eleições teve como consequência, seu território reduzido a uma nesga
quase inútil de terra.
Pela primeira vez na nossa história, será
pedida a aplicação do artigo 2º da Constituição Federal.
De regresso da
Capital da república aonde foram expor a pretensão da desanexação de ARARANGUÁ do
Estado de Santa Catarina, passaram por essa cidade Affoso Ghizzo e Artur
Campos, respectivamente Prefeito Municipal e presidente da Câmara de Vereadores
desse município.
A propósito do
assunto, inédito em nosso país, a reportagem do “O TORRENSE” procuraram ouvir
os líderes desse movimento, os quais com simplicidade que lhes é peculiar, relataram
a esperança de se tornar realidade essa aspiração.
Sob todos os aspectos
justifica-se nossa aspiração, diz o Sr. Affonso Ghizzo; historicamente porque,
conforme demostrou Oliveira Viana foi através da faixa de Araranguá que
penetrou uma grande leva de povoadores do Rio Grande do Sul. Geograficamente
Araranguá está encravada no território gaúcho, limitando com os municípios de Bom
Jesus, São Francisco de Paula e Torres e apenas com um município de Santa
Catarina que é Criciúma.
Economicamente, todo
o comércio de importação se faz por intermédio de firmas porto-alegrenses,
quanto a exportação se destina ao Rio e portos do Norte.
Socialmente também
estamos ligados à Porto Alegre, que hospitaliza os nossos doente e abriga os
desamparados da sorte.
Ainda agora consegui quatro
escolas rurais, bem como a estrada que liga Araranguá ao passo José Inácio.
O Sr. Artur Campos
assim se manifestou sobre o palpitante caso;
“A população de
Araranguá foi levada a esse gesto extremo de repudio ao Estado a que pertence
administrativamente devido á insuportável situação criada pelo governo do
Estado com odiosas perseguições cuja única origem reside na vitória do partido
oposicionista, a UDN, no último pleito municipal. Antes mesmo dessa vitória, já
as ameaças eram feitas com a intenção de amedrontar os eleitores e os
candidatos oposicionistas.
Realizadas as
eleições e verificada a vitória da UDN, concretizaram-se as ameaças da polícia
a mando do governo do Estado, que está nas mãos do PSD. O partido situacionista,
orientado pelo Sr. Nereu Ramos, estabeleceu um clima de intranquilidade em
Araranguá. Não há segurança e as ordens emanadas dos poderes públicos são
controladas pelos representantes legais do governo do Estado no Município, e
seus distritos.
As obras públicas,
como hospitais e escolas, estão paralisadas por determinação do governo de Florianópolis,
dominado pela oligarquia dos Ramos.
Não satisfeito, o
situacionismo promoveu o desmembramento do município criando-se o novo
Município de Turno.
A zona produtiva por excelência
passou a constituir o último município, ficando para o de Araranguá a zona arenosa
das praias, as zonas alagadiças, as lagoas e alguma terra cuja produção de
maior vulto é a mandioca.
Pretende-se, com isso,
estrangular, economicamente, o município de Araranguá.
Atos como esse são,
aliás, condenados pelo presidente da República, na sua Mensagem ao Congresso
Nacional, apresentado na abertura da atual gestão legislativa. Lê-se com efeito,
a pagina dez do referido documento: “O que se afigura inadmissível, e falo-vos
com tristeza, é que a uma experiência como a do fortalecimento financeiro dos
Municípios, que pode ser grandemente fecundada para o país, se retirem as características
revitalizadoras, dessangrando-os em movimentos de cissiparidade puramente
eleitoral”. É o caso típico de Araranguá, inspirado pelo Nereu Ramos, vice-presidente
da República, que pretende ser o candidato das forças democráticas do país à
sucessão do general Eurico Dutra...”
Enfim, em Araranguá
estamos acostumados a esperar tudo do Rio Grande e nada de Santa Catarina! Por
isso mesmo 80 por cento da população é pela anexação ao Rio Grande. Que venha,
pois, o plebiscito que nos foi negado pela assembleia Legislativa de Santa
Catarina!”.
Nota da redação. O
artigo 2º da Constituição de 1946 reza:
“Os Estados podem
incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a
outros ou formarem novos estados, mediante a voto das respectivas assembleias
legislativas, plebiscito das populações diretamente interessados e aprovação do
Congresso Nacional”. Com o efeito a Câmara Municipal e o Prefeito de Araranguá,
município do Estado de Santa Catarina, solicitaram o seu desmembramento daquele
Estado e a anexação ao Rio Grande do Sul!
Direção de Moacir
Indio da Costa e H. S. Padilha. Quinzenário Independente.